“O Estado do Amazonas pode se tornar a sede mundial de indústrias do setor de inovação em alimentos de proteínas alternativas, uma vez que o Polo Industrial de Manaus tem um potencial muito grande de atrair novas indústrias para Manaus e região”. A declaração foi dada por Gustavo Guadagnini, diretor executivo do The Good Food Institute Brasil (GFI) durante palestra, na manhã desta quarta-feira (19/02), no Auditório da Ciência, no Bosque da Ciência, no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus.
O GFI é uma organização sem fins lucrativos sediada nos EUA que promove alternativas à base de plantas para carne, laticínios e ovos, bem como carne cultivada e alternativas aos produtos da agricultura animal convencional.
Os representantes do Instituto estão em Manaus a convite da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (Sedecti) e cumprem uma agenda de apresentações e discussões com os setores da indústria, comércio, Governo e Institutos de Pesquisas.
Para Gustavo Guadagnini, tão logo seja oficializado o marco regulatório do setor de inovação em alimentos, junto às tratativas com o Governo Federal, haverá a possibilidade de atrair mais indústrias estrangeiras para o Amazonas. Porém, o executivo apontou a necessidade em atrair, primeiramente, o mercado nacional para as potencialidades de alimentos no Amazonas.
“Primeiro temos um potencial muito grande da indústria nacional que está se desenvolvendo para vender mundialmente. A indústria brasileira já está exportando para o mundo inteiro, vendendo para a América, Europa, África, Ásia e continuamos crescendo cada vez mais. Por isso, trazer a própria indústria nacional para o Amazonas, que tem um grande potencial de conquistar o mundo, por meio desse tipo de pesquisa. Isso, aliado a outros esforços do Governo Federal que é a questão da regulação desse setor no Brasil. Com o setor regulamentado, existe a grande possibilidade de atrair novas indústrias estrangeiras para se estabelecerem aqui em Manaus”, explicou Guadagnini.
O executivo se disse “fascinado com o potencial que o Amazonas tem de ser um dos maiores players do setor em inovação em alimentos daqui para frente, no sentido de olhar uma área que se baseia muito nas necessidades que vêm da biodiversidade”.
“Estamos falando de fazer produtos da base de vegetais ou de nutrir células animais, e tudo isso pode nascer aqui (Amazonas), porque aqui temos os pesquisadores, os institutos de pesquisas, a biodiversidade tanto dos vegetais, quanto dos animais, o que seria muito difícil de encontrar em outros lugares do mundo. Acredito fortemente que o Estado do Amazonas será um dos grandes líderes desse tipo de pesquisa e do desenvolvimento dessas tecnologias, seja para produto final, como, por exemplo, o hambúrguer de tucumã, seja para ingredientes que serão as vitaminas vindas de determinada planta amazônica servindo de nutrientes para células, entre outras possibilidades”, reforçou Guadagnini.
Biópolis Amazonas – A secretária executiva de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), Tatiana Schor, destacou que a vinda do GFI para Manaus faz parte de um dos propósitos do Programa Estruturante Biópolis Amazonas, que também trata sobre a diversificação da matriz econômica no Estado.
“Muito se fala em fortalecer o Polo Industrial de Manaus trazendo outros tipos de indústrias e produção e investimentos, e uma dessas possibilidades que está dentro do Programa Estruturante Biopolis Amazonas e que também faz parte do Programa Plurianual do Governo do Estado, é a de se trabalhar com proteínas alternativas que é um novo mercado crescente no mundo, já que o Brasil está disparando na ponta”, ressaltou.
A secretária destacou que as proteínas alternativas são produzidas a partir de plantas e de carnes cultivadas. “Já vimos algumas iniciativas na produção de órgãos humanos para transplante a partir de células, e essa alternativa de produção de alimentos trabalha na produção de carne também a partir do desenvolvimento celular, sem matar o animal. Logo, temos aí uma potencialidade enorme porque podemos pensar nas linhagens de células que temos na Amazônia. Além disso, a salvaguarda dessas células pode servir tanto para preservarmos a nossa floresta e ao mesmo tempo, para produzirmos uma alimentação diferenciada e diversificada, fortalecendo os elos tradicionais com a nossa comida”, salientou Schor.
O intuito do Governo do Amazonas é de fortalecer uma alternativa de desenvolvimento econômico tecnológico forte em Ciência e Tecnologia, respeitando o meio ambiente e as potencialidades regionais.
PANCs – Para a bolsista em Nutrição pelo Inpa, Luana Rodrigues Mendonça, a palestra com os representantes do GFI gerou novas ideias. “Acredito que todo mundo vai sair daqui com novas ideias e que poderão iniciar um novo processo de pesquisas na área de tecnologia de alimentos, já que esse mercado é novo e pode ser aplicado em coisas que já existem. Além disso, podemos também realizar pesquisas em produtos que podem ser transformados em outras novas formas de alimentação, principalmente, na área das PANCs (Plantas Alimentícias Não Convencionais). Inclusive, minha linha de pesquisa é de poder disponibilizar esse tipo de alimentos para a comunidade porque eles têm alto valor nutritivo”, revelou a pesquisadora.
Desperdício de alimentos – A nutricionista e pesquisadora, Dionísia Nagahama, responsável pelo Laboratório de Alimentos e Nutrição do Inpa, viu no evento uma grande oportunidade para os pesquisadores, principalmente, na questão de desperdício de alimentos.
“Vejo uma oportunidade muito boa com essa iniciativa do The Good Food Institute, porque é uma chance de se conseguir financiamentos para a pesquisa na área de alimentos e nutrição. Além disso, existe uma grande oportunidade para se trabalhar com a questão genética e também de desenvolver trabalhos voltados para a questão do desperdício de alimentos, já que o nosso país é pobre e ainda tem a cultura do desperdício. Assim, acredito que possam surgir grandes possibilidades de se aproveitar alimentos que não são utilizados e que também não são subprodutos, realizando iniciativas saudáveis e ambientalmente corretas, sem falar na geração de economia e renda para a região”, apontou a cientista.
FOTOS: SÍDIA AMBRÓSIO