Estreiou o filme de sequestro de um avião no Brasil que foi baseado em fatos reais

Caso se deu em 1988 e tinha como objetivo atingir o Planalto; episódio se assemelha ao 11 de setembro nos EUA. Foto: Divulgação

O Sequestro do Voo 375 estreou na última quinta-feira (7) nos cinemas brasileiros. O filme é dirigido por Marcus Baldini e produzido pelo Estúdio Escarlate.

Este longa-metragem é baseado em eventos reais que cercam o sequestro de um voo que partiu de Belo Horizonte com destino ao Rio de Janeiro. O episódio ocorreu em 29 de setembro de 1988, quando Raimundo Nonato Alves da Conceição, motivado pela insatisfação com a situação política do Brasil e pelas dificuldades financeiras enfrentadas por sua família, decidiu sequestrar o voo 375 da companhia aérea Vasp.

O voo teve início no Aeroporto de Confins, em Belo Horizonte. O plano de Nonato era fazer a aeronave colidir com o Palácio do Planalto e assassinar o então presidente da República, José Sarney. Armado com um revólver calibre 32, ele acabou tirando a vida do copiloto Salvador Evangelista e coagiu o comandante Fernando Murilo de Lima e Silva a mudar a rota da aeronave em direção à capital, em direção à sede do governo brasileiro.

Naquela época, não havia procedimentos de inspeção de bagagem com o uso de aparelhos de raio-X em voos domésticos, o que permitiu que o sequestrador embarcasse com uma arma.

Enfrentando a responsabilidade pela vida de mais de 100 pessoas a bordo, o piloto Murilo realizou uma manobra conhecida como “tonneau”, que envolve um giro completo da aeronave em torno de seu eixo longitudinal. Essa manobra é normalmente realizada apenas por aviões acrobáticos, sendo esta a primeira vez que foi executada por um avião comercial.

Essa manobra desestabilizou o sequestrador, permitindo que o comandante realizasse um pouso seguro no Aeroporto de Goiânia. Infelizmente, o copiloto Evangelista foi a única vítima fatal desse episódio. O sequestrador, após negociações com a Polícia Federal, foi baleado ao sair da aeronave e levado a um hospital, onde acabou falecendo dias depois devido a uma infecção.

No mesmo ano do incidente, Fernando Murilo de Lima e Silva recebeu a Ordem do Mérito Aeronáutico, uma honraria concedida a pilotos e comandantes militares por serviços notáveis prestados ao país, reconhecendo sua contribuição para a aeronáutica brasileira.

Em 2001, Fernando Murilo foi agraciado com o troféu “Destaque Aeronauta” pelo SNA (Sindicato Nacional dos Aeronautas) por sua atuação exemplar ao evitar uma tragédia maior em 1988. Infelizmente, Fernando Murilo faleceu em 2020, aos 72 anos.

Em 2011, a Infraero foi condenada em segunda instância a pagar uma indenização de R$ 250 mil para Wendy Evangelista, filha do copiloto Salvador Evangelista, que faleceu no sequestro. A justiça considerou que permitir a entrada de um passageiro com um revólver no avião foi um erro grave, uma vez que não existiam normas de segurança adequadas na época.

Este episódio brasileiro de 1988 apresenta semelhanças notáveis com os trágicos eventos de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos. Treze anos após o voo 375, aeronaves da American Airlines foram utilizadas para atacar as Torres Gêmeas do World Trade Center, localizado no centro financeiro de Nova York.

No caso americano, também houve uma tentativa fracassada de atingir a sede do Executivo. Um outro avião sequestrado foi derrubado em um campo aberto no Estado da Pensilvânia. Os sequestradores, membros do grupo fundamentalista islâmico Al-Qaeda, tinham como objetivo atingir a Casa Branca, então sob o comando do presidente George W. Bush.