A tarde de 8 de janeiro de 2023 ficou gravada na memória de muitos brasileiros como um episódio de extrema violência e choque. As invasões e depredações nos prédios da Praça dos Três Poderes, em Brasília, por manifestantes bolsonaristas, surpreenderam pela magnitude do vandalismo, mas não foram um acontecimento inesperado para quem acompanha de perto a política nacional. Políticos e jornalistas que presenciaram ou relataram os fatos agora relembram os eventos, destacando o impacto e as consequências daquele dia.
O impacto imediato: incredulidade e desolamento
A senadora Eliziane Gama (PSD-MA) estava em São Luís quando viu, através de mensagens de Whatsapp, imagens da destruição em Brasília. “Eu falei: gente, isso aqui não pode ser verdade. Isso é uma montagem, não é verdade”, recorda. Quando assistiu às cenas ao vivo pela televisão, sentiu-se atônita. Ao retornar ao Senado no dia seguinte, encontrou um cenário de guerra. “Parecia um filme de terror: o prédio totalmente escuro, o chão molhado, e as vidraças destruídas”.
O alerta ignorado
Apesar do espanto, Eliziane reconhece que havia sinais de que algo assim poderia acontecer. Como relatora da CPMI do 8 de janeiro, ela aponta a retórica de Jair Bolsonaro, que durante seu mandato (2019-2022) questionou repetidamente a segurança das urnas eletrônicas e a lisura do processo eleitoral. “Ele criou um colchão de condições para que o movimento extremista chegasse ao que acompanhamos”, afirmou.
Testemunhos de jornalistas
A jornalista e escritora Bianca Santana estava em Brasília naquele domingo. Ao pousar na capital, viu o celular repleto de mensagens perguntando se estava segura. “Assistimos a tudo pelo celular e decidimos não sair de casa”, lembra. Para ela, o episódio trazia a assinatura de Bolsonaro. “Ele esvaziou a credibilidade do sistema eleitoral e anunciou diversas vezes que não aceitaria o resultado das urnas”.
Leandro Demori, jornalista da TV Brasil, ressalta que o ataque à democracia não surgiu do nada. “Desde 2018, Bolsonaro ventilava a possibilidade de fraude eleitoral e pregava o voto impresso, plantando desconfiança na população”.
O temor de um golpe
Para o senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), os atos do 8 de janeiro eram previsíveis. “Eu sabia que eles não aceitariam pacificamente o resultado das eleições”. No entanto, ele se surpreendeu com a inércia das forças de segurança. “Havia uma negligência coordenada que permitiu o acesso dos invasores aos Três Poderes”. Rodrigues, que é historiador, comparou a situação ao golpe de Estado de 1973 no Chile.
O papel do humor
A sombra do golpe foi tema de esquetes do Porta dos Fundos, que satirizou a situação. Antonio Tabet, publicitário e roteirista, acredita que o humor ajudou a dissuadir golpistas. “O humor informa de maneira leve. Quem não entende as instituições pode se conscientizar através da comédia”.
Um dia que entrou para a história
Assim como o 11 de setembro de 2001 ou o acidente de Ayrton Senna, o 8 de janeiro tornou-se uma data que os brasileiros não esquecerão. O vandalismo, que começou às 13h com a marcha de golpistas acampados em Brasília, se concretizou com as invasões ao Congresso, Palácio do Planalto e STF em menos de duas horas.
A reportagem da Agência Brasil procurou a defesa de Jair Bolsonaro para comentários, mas não obteve resposta. O espaço permanece aberto para manifestações futuras.
Com base nas informações da Agência Brasil