Um ataque aéreo ordenado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, matou na noite de ontem (2) o chefe da Guarda Revolucionária do Irã, Qassem Soleimani, considerado um dos homens mais poderosos de Teerã.
O ataque ocorreu em Bagdá, no Iraque, onde o chefe militar estava participando de reuniões com milícias locais, já que o Irã tem aumentado cada vez mais sua presença no território vizinho. Ao menos quatro foguetes atingiram o aeroporto internacional da capital iraquiana.
Qassem Soleimani, de 62 anos, era major-general da Força Al Quds, unidade especial da Guarda Revolucionária do Irã, e apontado como o principal estrategista militar e geopolítico do país. Ele era muito próximo do aiatolá Ali Khamenei e sobreviveu a diversas tentativas de assassinato nas últimas décadas.
Considerado um herói no Irã, Soleimani tem sido chamado de mártir.
De acordo com a imprensa americana, ele era tido como o número dois do país, atrás apenas de Khamenei, e era cotado para ser o sucessor do aiatolá. Teerã decretou luto de três dias. Além dele, morreram no ataque outras cinco pessoas e Abu Mahdi al-Muhandis, chefe das Forças de Mobilização Popular do Iraque, milícia apoiada pelo Irã.
O Pentágono confirmou o ataque e disse que a ordem partiu de Trump.
Em comunicado, o Pentágono também acusou Soleimani pela morte de americanos no Oriente Médio e justificou que os bombardeios tinham como objetivo deter os planos de ataques futuros do Iraque. Trump ainda não se pronunciou sobre os bombardeios e se limitou a postar no Twitter a foto da bandeira dos Estados Unidos. No campo doméstico, a decisão de Trump tem sido considerada arriscada.
Não se sabe se o presidente chegou a avisar o Congresso de que poderia autorizar o ataque. Caso nenhum parlamentar tenha sido alertado com antecedência, o republicano corre o risco de perder apoio no Senado, que votará em breve seu processo de impeachment.
O ataque também gerou uma grande repercussão internacional e provocou mais tensão entre os Estados Unidos e o Irã. O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, prometeu aumentar a resistência contra os EUA e Israel, um grande aliado americano e desavença de Teerã. “Todos os inimigos devem saber que a jihad de resistência continuará com uma motivação dobrada, e uma vitória definitiva aguarda os combatentes na guerra santa”, afirmou Khamenei.
O líder supremo iraniano também nomeou imediatamente Esmail Qaani como substituto de Soleimani no comando da Força Al Quds.
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Javad Zarif, afirmou em uma rede social que a morte de Soleimani é um “ato de terrorismo” dos EUA “extremamente perigoso e uma escalada tola”.
Petróleo
Uma hora após a confirmação da morte de Soleimani, os preços do petróleo no mercado internacional já sofriam com altas de cerca de 4%. O barril brent chegou a ser vendido a US$ 68,90.
As companhias petrolíferas estrangeiras que atuam na região de Bassora, no Iraque, perto da fronteira com o Irã, ordenaram a evacuação de dezenas de funcionários.
Reações
A embaixada dos Estados Unidos em Bagdá orientou que os cidadãos americanos deixem o Iraque o quanto antes. Na terça-feira (31), a sede foi alvo de um ataque de iraquianos xiitas.
Outros países também demonstraram preocupação com o ataque. A China fez um apelo por calma, “especialmente aos Estados Unidos”. “Fazemos um apelo às partes envolvidas, especialmente aos Estados Unidos, para que se mantenha a calma e se evite uma escalada de tensão”, pediu um porta-voz de Pequim.
A Rússia, por sua vez, disse que a morte de Soleimani provocará mais tensões em todo o Oriente Médio.
“Soleimani serviu com devoção a causa da proteção dos interesses nacionais iranianos. Expressamos nossas sinceras condolências ao povo iraquiano”, escreveu a agência Ria Novosti, citando o Ministério das Relações Exteriores.
Para a França, o ataque americano em Bagdá deixou o mundo “mais perigoso”.
“O que queremos é, sobretudo, estabilidade e conter uma escalação”, afirmou a ministra francesa para a Europa, Amelie de Montchalin.
Em uma coletiva de imprensa, a porta-voz do governo alemão, Ulrike Demmer, disse que Berlim está
“preocupada” com “o perigoso momento de escalada” de tensão e pede “moderação” na região.